Lógica do andarilho, do monologador, do masturbador.
Necessidade do relato. Do cinema antigo, o mais belo (os títulos mais presentes
neste momento são “O mensageiro do diabo” (The night of the hunter) e “A
palavra” (Ordet)), o que eu retenho senão que eles avançam, a golpes de planos
ao mesmo tempo inesperados e fatais, sobre vários planos ao mesmo tempo. Nos
filmes ruins, nada se move: é a programação do roteiro que faz o quadro[1]
se mover. Nos bons filmes, move-se ao menos um elemento, o qual tem o orgulho e
a humildade de se obrigar a redescobrir a cada instante o resto do quadro (que,
na verdade, não se move). E Esta estranha emoção, na cena de “Pickpocket” na
qual o trem deixa a estação de Lyon porque algo, que não é nem o personagem nem
a plataforma, mas um terceiro ladrão, se move: o trem. Emoção irônica: você
foge mas você está imóvel. Nos grandes filmes, cada elemento do quadro se move,
mas à diferentes velocidades. O céu é, melhor do que a tela branca de cinema, a
metáfora última destes filmes, por causa das nuvens.
1988
Serge Daney – L’exercice a été profitable, Monsieur, P.O.L.
[1]Daney
usa para quadro o termo tableau, que
refere-se ao quadro pictórico . O termo usado para o quadro cinematográfico, cadre, não é empregado neste trecho.
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