sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

SESSÃO - O PROCESSO - 1962 (ORSON WELLES)





No que diz respeito ao meu estilo, à minha visão de cinema, a montagem não é um aspecto, é o aspecto. Colocar um filme em cena (mise-en-scène) é uma invenção de gente como os críticos: não é uma arte; no máximo uma arte durante um minuto por dia. Este minuto é terrivelmente crucial, mas ela só chega raramente. O único momento no qual se pode exercer algum controle sobre o filme é a montagem. Ora, na sala de montagem, eu trabalho muito lentamente, o que sempre acaba desencadeando a cólera dos produtores, que me tomam os filmes das mãos. Eu não sei porque isto me toma tanto tempo assim: eu poderia trabalhar eternamente na montagem de um filme. 




No que me diz respeito, a fita de celuloide se executa como uma partitura musical, e essa execução é determinada pela montagem.  Um chefe de orquestra interpretará um pedaço de música em rubato, um outro o interpretará de maneira seca e acadêmica, um terceiro será muito romântico, etc. As imagens elas mesmas não são suficientes: elas são muito importantes, mas são só imagens. O essencial é a duração de cada imagem: é toda a eloquência do cinema que se fabrica na sala de montagem.




Eu não creio que a soma do trabalho na montagem seja função da brevidade dos planos. É um erro crer que os russos trabalhassem muito na montagem porque eles filmavam  planos curtos. Pode-se passar muito tempo na montagem de um filme de longos planos, porque não nos contentamos em colar uma cena na outra.






Procuro o ritmo exato entre um enquadramento e o seguinte: é uma questão de orelha. A montagem é o momento no qual o filme lida com o sentido da audição.





Entrevista de Orson Welles a André Bazin e Charles Bitsch - Cahiers du cinéma, junho 1958 (nº 84)




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