De fato, mal uma pessoa morre, e já se efetua, de sua vida apenas concluída, uma rápida síntese. Caem no nada milhões de atos, expressões, sons, vozes, palavras, e apenas algumas dezenas ou centenas delas sobrevivem. Um número enorme de frases que disse em todas as manhãs, tardes e noites de sua vida caem num abismo infinito e silencioso. Mas algumas dessas frases resistem, como que por milagre, inscrevem-se na memória como epígrafes, ficam suspensas na luz de uma manhã, na doce escuridão de uma noite. A mulher e os amigos choram ao recordá-las.
Num filme, são essas frases que restam.
No filme o tempo é finito, nem que seja por uma ficção. Temos então que aceitar forçosamente a lenda. O tempo não é o da vida quando vive, mas da vida depois da morte: como tal, é real, não é uma ilusão e pode perfeitamente ser o da história de um filme.
Pier Paolo Pasolini - Empirismo eretico, Garzanti
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