sexta-feira, 24 de outubro de 2014

MONTAGEM ?




        Colocam-se três ângulos do leão, temos um leão que se levanta, por causa dos ângulos, mas não por causa da montagem, pois a montagem não diz nada sobre esse leão, não há nada a não ser o leão. Mas temos a ideia de algo que se levanta, é porque há uma pré-ideia da montagem. No primeiro filme de Nicholas Ray, They live by night[1], com Cathy O’Donnell, do qual eu coloquei regularmente dois ou três planos nas História(s)[2], vemos em um momento quatro planos em sequência sobre Cathy O’Donnell que está ajoelhada e se levanta, eles não estão de fato no eixo, mas estão na sequência, e poderíamos dizer que aí há um verdadeiro início de montagem artística. Ou como algumas vezes em Welles, o que vinha também do fato que ele fazia os filmes em uma terça de um ano quando estava em Marrakesh e depois ele fazia o contra-campo, em uma terça do outro ano quando estava em Zurique. Mas em uma simples conversa, há uma sequência de planos como em Mr. Arkadin, onde é mais visível, onde há uma espécie de ritmo que não é campo – contra-campo, que também não é decupagem, mas há um certo ritmo da conversa de repente, que é ao mesmo tempo um efeito brilhante e como que o traço do que procuravam todos esses cineastas, e que é verdadeiramente a montagem para contar histórias de outra maneira. 





[1] Título brasileiro: Amarga esperança.
[2] Histoire(s) du cinéma


      Jean-Luc Godard, Youssef Ishaghpour - Archéologie du cinéma et mémoire du siècle - dialogue, Farrago



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