Colocam-se
três ângulos do leão, temos um leão que se levanta, por causa dos ângulos, mas
não por causa da montagem, pois a montagem não diz nada sobre esse leão, não há
nada a não ser o leão. Mas temos a ideia de algo que se levanta, é porque há
uma pré-ideia da montagem. No primeiro filme de Nicholas Ray, They live by night[1],
com Cathy O’Donnell, do qual eu coloquei regularmente dois ou três planos nas História(s)[2],
vemos em um momento quatro planos em sequência sobre Cathy O’Donnell que está
ajoelhada e se levanta, eles não estão de fato no eixo, mas estão na sequência,
e poderíamos dizer que aí há um verdadeiro início de montagem artística. Ou
como algumas vezes em Welles, o que vinha também do fato que ele fazia os
filmes em uma terça de um ano quando estava em Marrakesh e depois ele fazia o
contra-campo, em uma terça do outro ano quando estava em Zurique. Mas em uma
simples conversa, há uma sequência de planos como em Mr. Arkadin, onde é mais visível, onde há uma espécie de ritmo que
não é campo – contra-campo, que também não é decupagem, mas há um certo ritmo
da conversa de repente, que é ao mesmo tempo um efeito brilhante e como que o
traço do que procuravam todos esses cineastas, e que é verdadeiramente a
montagem para contar histórias de outra maneira.
Jean-Luc Godard, Youssef Ishaghpour - Archéologie du cinéma et mémoire du siècle - dialogue, Farrago
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